O presente livro engloba alguns textos publicados por Jung no início de sua carreira (1902 a 1905), como médico psiquiatra. A dissertação “Sobre a psicologia e patologia dos fenômenos chamados ocultos” (1902), já dava sinais de sua forma diferenciada de atuar com saúde psíquica. Assim como destacam os editores “a psiquiatria descritiva por si só não conseguiu satisfazer Jung”.
Por isso, os próximos volumes II e III das O.C. deram sequência na pesquisa que Jung fez na psicologia experimental. E as descobertas desta fase demonstraram uma “atitude científica e dinâmico-interpretativa”. Ele parte, inicialmente, do campo biológico, e mais à frente, sabe-se que sua base para a psicologia analítica será o campo simbólico (vol. 5 – Símbolos da Transformação) – um livro que será um divisor de águas, inclusive, no que tange sua amizade com Freud.


Neste 1º vol. Jung aborda temas, que estudou na clínica psiquiátrica em Zurique (Suíça), influenciado por Eugen Bleuler; como por exemplo, casos de: histeria, sonambulismo, mediunidade, criptominésia, distimia maníaca, alguns casos sobre simulação de insanidade mental em casos de pessoas condenadas à prisão, ou seja, algo similar a uma psiquiatria forense.
Um caso de destaque do livro é de uma jovem médium que foi observada por Jung durante sessões espíritas, referenciada por senhorita S.W. . Esta jovem cresceu num ambiente adverso, teve uma educação de base, mas nada que excedesse as expectativas. Durante o período que Jung a observou, acompanhou diversos diálogos entre os participantes da sessão e a “personalidade sonambúlica ou semi-sonambúlica”. Esta jovem seria sua prima Helene Preiswerk, segundo relatos que constam no livro da biógrafa Deirdre Bair – Jung: uma biografia (2004), para quem quiser saber mais sobre essa outra história. (https://www.amazon.com.br/Jung-Uma-Biografia-Deirdre-Bair/dp/8525041866)

Esse momento é essencial para o psiquiatra suíço, pois tanto nestas sessões com a sua prima quanto na clínica de Zurique, Jung teve a oportunidade de observar os fenômenos que até então não tinham uma explicação biológica.
Era como se Jung buscasse uma fundamentação científica para a Alma.
Por isso, o início é importante. Ele vai começar a perceber que seria necessário um movimento do campo da psiquiatria organicista (não considera questão psíquica – o que trata os sintomas são os remédios) para o campo do subjetivo (o que acontece no corpo pode ser reflexo – sintoma – do que se iniciou na Alma/Mente), aquele que se abriria para a escuta da dimensão simbólica.
Jung percebeu em seus pacientes um apelo à transformação para a vida simbólica.

“Pode-se dizer que nossa consciência está cheia desses intrusos quase estranhos cuja identidade é difícil provar. Cada dia entram centenas de associações no círculo iluminado da consciência; e nós perguntaremos em vão por maiores informações sobre sua origem. Devemos lembrar-nos sempre de que a consciência só é uma parte da psique. Talvez a maior parte dos elementos psíquicos seja inconsciente” (Jung – O.C. vol.1,§171).